domingo, 4 de março de 2007

CELEBRANDO A SACANAGEM

por André Pugliesi e Rodrigo Abud

Há 34 anos o Concurso Bem Bolada é a principal opção em matéria de putaria no carnaval curitibano. Literalmente. Para os fanfarrões de primeira viagem, e para aqueles que não são da área, o concurso elege a garota de programa mais bonita, gostosa, jeitosa, em suma, a moça mais completinha do carnaval na capital paranaense. Representantes de quase todas as boites de Curitiba e região metropolitana pisam e sambam na passarela em busca do título máximo do ramo.

Realizado no Crystal Palace, domingo de carnaval, o evento teve como vitoriosa a candidata Juliana Antonele, alegados 21 anos, representando a Sex Night Club. Entre toda sorte de tipos femininos, Juliana Antonele, sem dúvida, era uma das mais bonitas. No entanto, muito se comenta nos bastidores quanto à lisura dos resultados. Enfim, se é certo que o júri não transmite muita credibilidade, especialmente entre as concorrentes, pelo menos é composto da mais variada gama de personalidades. Constituíam o corpo de jurados do Bem Bolada 2004, gente do quilate de um Roberto Hinça, apresentador de tevê renomado, Jotapê, radialista e político nas horas vagas, contando ainda com um belo apanhado de figuras estranhas e jornalistas em estado avançado de embriaguez. A apresentação do evento ficou a cargo de Cândido de Oliveira, brilhante repórter do programa Ricardo Chab. Candinho, para os íntimos, mostrou enorme categoria na condução do concurso, fazendo às vezes de apresentador, animador de auditório e, quando necessário, comandou o rebolado das candidatas até o chão, tal qual um passista de escola de samba dos mais experientes. Só faltou o pandeiro.

Como de praxe, destaquei o intrépido jornalista Rodrigo Abud para me acompanhar na cobertura do evento. Abud, que de bôbo não tem nada, animou-se e aceitou prontamente meu chamado. Afinal, não é de se desperdiçar a chance de cobrir algo, ou alguma coisa, no funeral, perdão, no carnaval curitibano. Ainda mais numa festa de garotas de programa, onde as chances de cobertura, em cash ou não, aumentam consideravelmente. Abaixo, nossas impressões sobre o Bem Bolada 2004.

Chegando ao evento eu e Abud constatamos que, caso não rolasse o famoso trenzinho de carnaval, certamente as risadas estavam garantidas. Já na portaria do Crystal Palace a fauna humana exuberante e exótica dava o ar da graça, provando ser o Bem Bolada um evento para uma platéia selecionada. Em meio a um público majoritariamente masculino, destacavam-se tiozões exalando naftalina, jovens ouriçados e vovôs-garoto, não me perguntem como, muito bem acompanhados. Algumas moças sozinhas também decoravam o ambiente, todas com o pecado estampado na face. Mais adiante, no transcorrer do desfile, descobriríamos que não só a fauna, mas também a flora do local era bastante exuberante. Mas isso é assunto para algumas linhas abaixo.

Opositor que sou do corporativismo no jornalismo brasileiro, adentrei ao recinto sem fazer uso da minha carteira do Sindicato dos Jornalistas, a qual não possuo e nem faço questã. Paguei ingresso como todos os mortais, devidamente bonificado pelo recorte da Tribuna. Abud e eu concordamos que 10 mangos tratava-se de um preço justo para um evento de tamanha magnitude. Além do mais, quitando o ingresso estaríamos contribuindo para a manutenção do Bem Bolada como o bastião da marotagem no carnaval curitibano.

Passando pela revista, sentimos o bafo de zona que se adonava das dependências do Crystal Palace, fenômeno normal em se tratando da natureza do concurso. Em tempo, louve-se a disposição e o profissionalismo dos seguranças em apalpar uma rapaziada excitadíssima para apreciar as candidatas. Como bons pândegos, eu e Abud caímos matando na pista de dança, recepcionados pela tecnêra irada que bombava dos alto-falantes.

Depois de nos esbaldarmos com os hits eletrônicos mais cafajestes da night, bailamos ao som da banda residente do Crystal Palace. Não me recordo o nome do grupo, uma sub-banda de formatura, daquelas que tocam a nata das músicas lamentáveis do rádio para os mais novos profissionais consagrarem seu futuro desemprego. Lembro-me apenas de um belíssimo afro-brasileiro arrepiando, pra variar, no contra-baixo. Muita porcaria e algumas saudosas marchinhas depois, Cândido de Oliveira subiu ao palco para dar início aos trabalhos do Bem Bolada 2004.

Candinho, a fogosa Kendrya e Madrinha abusada
Estrategicamente posicionados à beira do palco, não contávamos com a desorganização do evento. Com muita educação, é verdade, Cândido de Oliveira solicitou que a massa ereta que tomava conta da pista sentasse no chão para não obstruir a visão dos cafetões, digo, do pessoal das mesas que estava atrás. Diplomaticamente acatamos as ordens de Candinho, afinal, ainda assim teríamos uma bela visão do desfile. Mas tinha mais. Mostrando que tudo havia sido minuciosamente planejado, a organização ordenou que a plebe, digo, o pessoal sentado no chão se afastasse para dar lugar às mesas dos jurados. Com a mesa do júri à frente ficaríamos com a visão deveras prejudicada, não podendo relatar com fidelidade o desfile, sendo assim, fomos obrigados a descolar um espaço mais adequado.

Terminados os reparos logísticos, Candinho chamou ao palco Kendrya, uma menina muito extrovertida que as más línguas diziam ser prostituta. A moça subiu ao palco para divulgar seu ensaio de fotos ousadas para a revista Área Vip Brasil e, para o deleite da audiência, aproveitou o ensejo e proporcionou um preview do conteúdo editorial. Me senti num fim de feira, onde melões eram disputados avidamente e até um bacalhauzinho sobrou pra alegria turma.

Para entreter e aplacar a ansiedade do público, Candinho usou e abusou dos dotes sambísticos da Madrinha do Bem Bolada. Entre os mais diversos agradecimentos, a moça dançou sem parar no aguardo da preparação das candidatas. Há duas horas dançando desnuda ao lado de Candinho no palco, a Madrinha não escondeu a expressão de insatisfação ao ser convocada pelo apresentador a dançar mais um pouquinho. Ciente do descontentamento da estafada passista, mostrando incrível perspicácia e atenção aos mínimos detalhes, Candinho soltou a pérola da noite...

"Que beleza, já tá de topless..."

Depois dessa, restou a Candinho anunciar, com pompa e circunstância, os responsáveis pela escolha da legítima representante da noite curitibana. Com os jurados em seus lugares, a plebe espremida e as torcidas animadas, finalmente, foram chamadas as concorrentes.

Demorou, mas valeu a pena. Um sem fim de plumas, paetês, purpurinas, nádegas, seios e genitálias semi-desnudas descortinaram-se perante os olhos atônitos da platéia. Pura luxúria, marotagem e saliência. Um espetáculo erótico-carnavalesco empolgante e divertidíssimo.

E dá-lhe mexe-mexe, bole-bole, sobe-e-desce, desce-e-sobe. Todas as candidatas tiveram a oportunidade de exibir seus dotes artísticos e genitais para os jurados. Primeiro, coletivamente. Depois, em vôo solo. Sambaram à vontade. Afinal, para uma escolha de tamanha envergadura, faz-se necessária muita atenção nos mínimos detalhes. E para uma melhor visualização dos detalhes, algumas candidatas mais vagabundas, digo, desesperadas, digo, um tanto quanto exaltadas, não se contentaram em exibir apenas a malemolência no samba, exibindo-a também em outras partes do corpo. Aliás, se não fosse por essas meninas festeiras que apresentaram CIC, RG e comprovante de residência na passarela, o Bem Bolada não passaria de um concurso de beleza comum.

Eu nem precisaria dizer que a o público ia a loucura com as meninas mais afoitas. Inclusive, não posso deixar de destacar um bróder que estava ao nosso lado, trajando uma camisa social branca não muito passada, de vistosa cabeleira black que a todo momento ordenava com incrível intimidade: "Cândido, manda elas tirar a roupa!".

Finalizado os desfiles, as candidatas recolheram-se aos suntuosos camarins do Crystal Palace para aguardar a apuração dos votos. Não demorou muito e o resultado veio à tona sem grandes surpresas. Bianca, do Café Paris, foi eleita Miss Simpatia. A eleita para Segunda Princesa foi Patrícia Guedes, do Café Paris. Por último nos prêmios de consolação, Priscila Veiga, do Saara Café, faturou o título de Primeira Princesa. Interessante notar pelo resultado como os cafés de Curitiba estão a cada dia com atrações mais ousadas.

Juliana, a grande vencedora

O tão aguardado resultado do Bem Bolada 2004 veio logo a seguir. Cercado pelos jornalistas, Candinho anunciou Juliana Antonele como a Bem Bolada do carnaval 2004. A moça, bastante contida e tímida, posou para as lentes dos fotógrafos, deu entrevistas, mas não atendeu ao apelo da platéia por um algo mais. Manteve-se vestida mesmo nos momentos de euforia pela conquista do título.

Chegava ao fim o tradicionalíssimo concurso Bem Bolada. Alguns reclamavam do excesso de pudor da maioria das candidatas. Eu e Rodrigo Abud ainda atordoados pela estréia no fantástico mundo da putaria momesca, deixamos para repercutir o concurso com mais calma e, tranqüilos, relatarmos a experiência para vocês.

Como já disse, exceto por algumas meninas mais acaloradas, não se confirmou a putaria generalizada que parecia ser a tônica do concurso. Como profundo conhecedor da folia brasileira, posso garantir que as chances de deixar o vovô, a vovó e a menina ingênua morrendo de vergonha com o carnaval são bem maiores em qualquer praia do Brasil. A profusão de danças sexuais e versos chulos no Bem Bolada é infinitamente menor. A diferença é que o Bem Bolada é um concurso onde a rapaziada deixa a hipocrisia de lado e celebra pacificamente a sacanagem há 34 carnavais.

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